Tuberculose Ativa Aposenta? Requisitos e Benefícios do INSS
A dúvida sobre se tuberculose ativa aposenta é frequente entre trabalhadores que recebem o diagnóstico dessa doença. O tratamento pode durar de seis meses a dois anos, período durante o qual a capacidade laboral fica significativamente comprometida. Como manter o sustento da família durante esse tempo?
A legislação previdenciária brasileira reconhece a gravidade da tuberculose e confere tratamento diferenciado ao segurado, inclusive com dispensa do período de carência para acesso aos benefícios por incapacidade. Essa proteção especial está prevista no artigo 151 da Lei 8.213/91.
Neste artigo, examinamos os aspectos médicos e jurídicos da tuberculose ativa, os benefícios previdenciários cabíveis, a documentação necessária e os procedimentos para obtenção junto ao INSS.
O que é tuberculose ativa
A tuberculose é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch. Trata-se de uma das enfermidades mais antigas da humanidade e, apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento, permanece como importante problema de saúde pública no Brasil.
A forma mais comum é a tuberculose pulmonar, que representa aproximadamente 85% dos casos. Contudo, a infecção pode acometer outros órgãos e sistemas, como ossos, rins, sistema nervoso central e linfonodos, configurando a chamada tuberculose extrapulmonar.
Diferença entre tuberculose ativa e latente
Nem toda pessoa infectada pelo bacilo de Koch desenvolve a doença. Quando o sistema imunológico consegue conter a bactéria sem eliminá-la completamente, ocorre a infecção latente: o microrganismo permanece no organismo em estado de dormência, sem causar sintomas e sem capacidade de transmissão.
A tuberculose ativa, por outro lado, é a fase em que a bactéria se multiplica e provoca manifestações clínicas. Nessa condição, o paciente apresenta sintomas, pode transmitir a doença e necessita de tratamento imediato. É precisamente a tuberculose ativa que enseja o afastamento do trabalho e pode conferir direito aos benefícios previdenciários.
Classificação pela CID-10
A Classificação Internacional de Doenças organiza a tuberculose ativa conforme a localização e a confirmação diagnóstica:
- CID A15: tuberculose respiratória com confirmação bacteriológica ou histológica
- CID A16: tuberculose respiratória sem confirmação bacteriológica ou histológica
- CID A17: tuberculose do sistema nervoso central
- CID A18: tuberculose de outros órgãos (ossos, intestino, pele, sistema geniturinário)
- CID A19: tuberculose miliar, forma disseminada e grave
Para fins previdenciários, qualquer dessas classificações pode fundamentar o pedido de benefício, desde que comprovada a incapacidade para o trabalho.
Principais sintomas da tuberculose ativa
O quadro clínico da tuberculose pulmonar ativa costuma incluir tosse persistente por três semanas ou mais, frequentemente acompanhada de expectoração. Em casos avançados, pode haver presença de sangue no escarro.
Outros sintomas comuns são febre vespertina (que se manifesta no final da tarde), sudorese noturna intensa, perda de peso involuntária, redução do apetite e fadiga constante. Dor torácica e falta de ar também podem estar presentes, especialmente quando há comprometimento extenso dos pulmões.
Nas formas extrapulmonares, os sintomas variam conforme o órgão afetado. A tuberculose óssea causa dor localizada e dificuldade de locomoção; a tuberculose renal manifesta-se com alterações urinárias; a meningite tuberculosa provoca cefaleia intensa e rigidez de nuca.
Duração do tratamento
O tratamento padrão dura no mínimo seis meses, divididos em duas fases: a fase intensiva, com duração de dois meses, e a fase de manutenção, que se estende por mais quatro meses.
Em situações especiais, como tuberculose meningoencefálica ou formas resistentes aos medicamentos, o tratamento pode se prolongar por 12 a 24 meses.
Quem tem tuberculose ativa pode trabalhar
A resposta depende do estágio da doença e da atividade profissional exercida. De modo geral, o paciente com tuberculose pulmonar ativa deve ser afastado do trabalho durante as primeiras semanas de tratamento, período em que a capacidade de transmissão é mais elevada.
Afastamento durante a fase transmissível
A tuberculose pulmonar e laríngea são formas transmissíveis da doença. A propagação ocorre pelo ar, quando o paciente tosse, espirra ou fala, liberando partículas contendo o bacilo. Ambientes fechados e mal ventilados favorecem o contágio.
Após o início do tratamento adequado, a carga bacteriana diminui progressivamente. Em geral, após duas a três semanas de terapia regular, o risco de transmissão reduz-se de forma significativa. Contudo, a decisão sobre o retorno ao trabalho deve ser individualizada, considerando a resposta clínica e a natureza da atividade profissional.
Trabalhadores de áreas sensíveis, como profissionais de saúde ou educadores de crianças pequenas, podem necessitar de afastamento mais prolongado até que haja confirmação da negativação bacteriológica.
Retorno ao trabalho após o tratamento
Quando o tratamento evolui satisfatoriamente e não restam sequelas incapacitantes, o paciente pode retomar suas atividades profissionais normalmente. A tuberculose tem cura na grande maioria dos casos, especialmente quando o diagnóstico é precoce e o esquema terapêutico é cumprido integralmente.
Situações que impedem o retorno ao trabalho
Nem todos os pacientes conseguem retomar a vida profissional após a tuberculose. Algumas circunstâncias podem resultar em incapacidade prolongada ou permanente.
Tuberculose resistente. As formas multirresistentes (MDR-TB) e extensivamente resistentes (XDR-TB) exigem tratamentos de 18 a 24 meses e apresentam taxas de cura inferiores.
Formas graves. Pacientes com acometimento pulmonar bilateral extenso ou tuberculose miliar podem apresentar limitação funcional significativa mesmo durante o tratamento.
Comorbidades associadas. A coinfecção pelo HIV, diabetes descompensado ou outras condições que comprometem a imunidade podem dificultar a resposta ao tratamento.
Sequelas permanentes. Mesmo após a cura bacteriológica, a tuberculose pode deixar danos irreversíveis: fibrose pulmonar, bronquiectasias e destruição do parênquima pulmonar são exemplos de sequelas que comprometem definitivamente a capacidade laboral. Essas sequelas são classificadas na CID-10 sob o código B90 e serão objeto de artigo específico neste site.
Tuberculose ativa aposenta por invalidez?
Sim, a tuberculose ativa pode dar direito à aposentadoria por invalidez quando a doença causa incapacidade total e permanente para o trabalho. Contudo, essa não é a única possibilidade: dependendo da situação, o segurado pode ter direito ao auxílio por incapacidade temporária ou ao Benefício de Prestação Continuada.
A legislação previdenciária confere tratamento especial à tuberculose ativa, dispensando o cumprimento do período de carência. Essa proteção está prevista no artigo 151 da Lei 8.213/91.
Auxílio por incapacidade temporária
O auxílio por incapacidade temporária, anteriormente denominado auxílio-doença, destina-se ao segurado que se encontra temporariamente impossibilitado de exercer suas atividades profissionais.
Para o paciente com tuberculose ativa, esse benefício assume particular relevância, pois o tratamento dura no mínimo seis meses, período durante o qual pode haver necessidade de afastamento do trabalho.
Requisitos:
- Qualidade de segurado (estar contribuindo ou no período de graça)
- Incapacidade temporária comprovada para o trabalho
- Carência dispensada por força do artigo 151 da Lei 8.213/91
Valor: 91% do salário de benefício, limitado à média dos últimos 12 salários de contribuição.
Duração: enquanto perdurar a incapacidade, mediante avaliações periódicas.
Aposentadoria por incapacidade permanente
A aposentadoria por incapacidade permanente é concedida quando a incapacidade para o trabalho é total e definitiva, sem possibilidade de reabilitação para qualquer atividade profissional.
No contexto da tuberculose ativa, esse benefício pode ser cabível em formas graves e resistentes da doença, comprometimento extenso dos pulmões ou desenvolvimento de sequelas incapacitantes durante o tratamento.
Requisitos:
- Qualidade de segurado
- Incapacidade total e permanente, comprovada por perícia
- Carência dispensada para tuberculose ativa
Valor após a EC 103/2019: 60% do salário de benefício, acrescido de 2% para cada ano de contribuição que exceder 20 anos (homens) ou 15 anos (mulheres).
Adicional de 25%: o artigo 45 da Lei 8.213/91 prevê acréscimo sobre o valor da aposentadoria quando o segurado necessita de assistência permanente de outra pessoa. Em casos de tuberculose com comprometimento grave da função respiratória ou dependência de oxigenoterapia contínua, esse adicional pode ser requerido.
BPC-LOAS
O Benefício de Prestação Continuada é assistencial, não previdenciário, e destina-se a pessoas com deficiência que comprovem não possuir meios de prover a própria subsistência.
Para o paciente com tuberculose ativa, o BPC pode representar alternativa quando não há qualidade de segurado ou quando o histórico contributivo é insuficiente.
Requisitos:
- Deficiência de longo prazo que obstrua a participação plena na sociedade
- Renda familiar per capita igual ou inferior a 1/4 do salário mínimo
- Inscrição no Cadastro Único (CadÚnico)
Valor: um salário mínimo mensal, sem direito a 13º salário.
Como comprovar tuberculose ativa no INSS
A concessão de qualquer benefício por incapacidade depende da comprovação adequada da condição de saúde. No caso da tuberculose ativa, essa comprovação envolve documentação médica específica que demonstre tanto o diagnóstico quanto a impossibilidade de exercer atividades profissionais.
Exames diagnósticos
Baciloscopia direta. Exame microscópico do escarro para identificação do bacilo de Koch. O resultado positivo confirma a forma ativa da doença.
Cultura para micobactéria. Mais sensível que a baciloscopia, permite identificar a espécie e realizar teste de sensibilidade aos medicamentos.
Teste rápido molecular (TR-TB). Detecta o DNA da bactéria e identifica resistência à rifampicina em aproximadamente duas horas.
Radiografia de tórax. Fundamental para avaliação do comprometimento pulmonar. A extensão das lesões auxilia na avaliação da gravidade.
Tomografia computadorizada. Oferece informações mais detalhadas, sendo útil quando a radiografia é inconclusiva.
Laudo médico
O laudo médico é peça central da documentação e deve conter:
- Identificação do paciente e do médico (com CRM)
- Diagnóstico com código CID-10 (A15 a A19)
- Descrição do quadro clínico atual
- Resultados dos exames complementares
- Descrição das limitações funcionais
- Tempo estimado de afastamento
- Indicação expressa de incapacidade para o trabalho
Recomenda-se que o laudo tenha sido emitido em prazo não superior a 90 dias antes da perícia.
Documentação complementar
- Relatórios de internação hospitalar
- Receituários médicos
- Resultados sequenciais de exames
- Cartão de acompanhamento do tratamento
Documentos pessoais e previdenciários
- Documento de identidade e CPF
- Comprovante de residência
- Carteira de Trabalho
- Extrato do CNIS (obtido pelo Meu INSS)
Para o BPC, acrescenta-se o comprovante de inscrição no CadÚnico e documentos sobre a renda familiar.

Como solicitar o benefício por tuberculose ativa
O requerimento pode ser realizado por diferentes canais, sendo o meio digital o mais utilizado.
Canais de atendimento
Meu INSS. O aplicativo e o site (meu.inss.gov.br) permitem realizar o requerimento, anexar documentos e agendar perícia. O acesso exige cadastro na plataforma Gov.br.
Telefone 135. Atendimento de segunda a sábado, das 7h às 22h.
Atendimento presencial. Nas agências do INSS, mediante agendamento prévio.
Passo a passo pelo Meu INSS
- Acesse o site ou aplicativo e faça login com sua conta Gov.br
- Selecione “Pedir Benefício por Incapacidade”
- Escolha o tipo de benefício desejado
- Preencha os dados solicitados
- Anexe os documentos médicos em PDF ou imagem
- Agende a perícia médica na data e local disponíveis
Preparação para a perícia
A perícia é o momento decisivo para a concessão. Algumas orientações:
- Compareça com antecedência de 15 minutos
- Leve toda a documentação médica organizada
- Use roupas confortáveis
- Relate com clareza e honestidade suas limitações
- Descreva como a doença afeta concretamente sua capacidade de trabalho
- Evite exageros ou minimizações
Principais motivos de indeferimento
- Documentação insuficiente ou desatualizada
- Conclusão pericial de ausência de incapacidade
- Erros na classificação da doença pelo sistema
O que fazer se o INSS negar o benefício
O indeferimento não significa o fim da pretensão. O ordenamento jurídico assegura instrumentos para questionar a decisão administrativa.
Recurso administrativo
O segurado pode interpor recurso à Junta de Recursos da Previdência Social (JRPS).
Prazo: 30 dias contados da ciência da decisão.
Forma: pelo Meu INSS, presencialmente ou pelos Correios.
Conteúdo: exposição dos motivos de discordância, com apresentação de novos documentos se necessário.
O recurso administrativo pode ser suficiente em casos de erro material ou documental. Contudo, quando a negativa decorre de conclusão pericial, a via judicial costuma oferecer melhores perspectivas.
Ação judicial
O acesso ao Poder Judiciário independe do esgotamento da via administrativa.
Competência: Justiça Federal ou Juizados Especiais Federais.
Perícia judicial: o juiz determina nova perícia por profissional independente, não vinculado ao INSS.
Tutela de urgência: em situações de gravidade, é possível requerer a implantação imediata do benefício antes do julgamento final.
Importância da assessoria jurídica
A complexidade da legislação previdenciária recomenda o acompanhamento por advogado especializado, que pode avaliar as chances de êxito, orientar sobre a documentação e conduzir o processo com conhecimento das particularidades da matéria.
Conclusão
A tuberculose ativa aposenta quando causa incapacidade total e permanente para o trabalho. Mesmo nos casos em que a incapacidade é temporária, o segurado tem direito ao auxílio por incapacidade temporária durante o período de tratamento e recuperação.
A legislação previdenciária reconhece a gravidade da doença e dispensa o cumprimento da carência mínima de 12 contribuições, facilitando o acesso aos benefícios. Para quem não possui vínculo com o INSS, o BPC-LOAS representa alternativa de proteção social.
O sucesso do requerimento depende de documentação médica consistente e atualizada, que comprove não apenas o diagnóstico, mas principalmente as limitações funcionais decorrentes da doença. Em caso de negativa, recursos administrativos e judiciais podem reverter a decisão.
Perguntas frequentes
O que é tuberculose ativa? É a fase da doença em que a bactéria Mycobacterium tuberculosis está se multiplicando no organismo, causando sintomas e podendo ser transmitida a outras pessoas. Diferencia-se da tuberculose latente, em que a bactéria permanece inativa.
Qual é o principal sintoma da tuberculose ativa? A tosse persistente por três semanas ou mais é o sintoma mais característico da tuberculose pulmonar. Outros sintomas incluem febre vespertina, sudorese noturna, perda de peso e fadiga.
Como comprovar tuberculose ativa? Por meio de exames diagnósticos como baciloscopia, cultura para micobactéria, teste rápido molecular (TR-TB) e radiografia de tórax. O laudo médico com o código CID (A15 a A19) formaliza o diagnóstico.
Quanto tempo dura a fase ativa da tuberculose? O tratamento padrão dura no mínimo seis meses. Em formas resistentes ou com acometimento do sistema nervoso, pode se estender por 12 a 24 meses.
Quem tem tuberculose ativa pode trabalhar normalmente? Durante a fase transmissível, o afastamento é necessário para evitar contágio. Após duas a três semanas de tratamento regular, o risco de transmissão diminui, mas a decisão de retorno deve ser individualizada.
Tuberculose ativa aposenta por invalidez? Sim, quando a doença causa incapacidade total e permanente para qualquer atividade profissional. A carência é dispensada conforme o artigo 151 da Lei 8.213/91.
Quem tem tuberculose tem direito ao BPC? Sim, desde que a doença cause deficiência de longo prazo e a renda familiar per capita seja igual ou inferior a 1/4 do salário mínimo. O BPC independe de contribuição prévia ao INSS.
A tuberculose ativa dispensa carência no INSS? Sim. A tuberculose ativa consta do rol de doenças do artigo 151 da Lei 8.213/91, que dispensa o período mínimo de 12 contribuições para acesso aos benefícios por incapacidade.
Qual o valor da aposentadoria por tuberculose? Após a EC 103/2019, o valor corresponde a 60% do salário de benefício, acrescido de 2% para cada ano que exceder 20 anos de contribuição (homens) ou 15 anos (mulheres). Pode haver adicional de 25% em casos de grande invalidez.
Tuberculose ativa dá direito ao auxílio-doença? Sim. O auxílio por incapacidade temporária é devido quando a tuberculose ativa impede temporariamente o exercício da atividade profissional. O valor corresponde a 91% do salário de benefício.
Quais exames comprovam tuberculose ativa? Baciloscopia direta, cultura para micobactéria, teste rápido molecular (TR-TB), radiografia de tórax e, em casos selecionados, tomografia computadorizada.
O que fazer se o INSS negar o benefício por tuberculose? É possível interpor recurso administrativo à Junta de Recursos no prazo de 30 dias ou ingressar com ação judicial. Na via judicial, nova perícia é realizada por profissional independente.
Veja também nosso artigo, Tuberculose Ativa Aposenta? Requisitos E Benefícios Do INSS – Barbieri Advogados | Barbieri Advogados
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