O futuro da intermediação financeira
Roberto Campos Neto
Economista, foi presidente do Banco Central do Brasil por seis anos. É vice-chairman do Nubank e mestre em economia pela universidade UCLA

O futuro da intermediação financeira
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Pix, internacionalização, Open Finance e Drex podem fazer do Brasil referência mundial em modernização
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No futuro cada pessoa terá, em um único aplicativo, acesso a todas as suas informações financeiras
Lembro-me bem do meu avô Rui reclamando das filas no banco. Toda semana, ele ia até a agência para pagar contas, verificar saldos, falar com o gerente e voltava para casa com a sensação de dever cumprido. A visita ao banco fazia parte da rotina, como ir ao supermercado ou ao cabeleireiro.
Os bancos brasileiros, com sua enorme capacidade de adaptação, sobreviveram a crises de dívida e surtos de hiperinflação. Ainda assim, o modo como nos relacionamos com eles mudou profundamente.
Em agosto de 2018, quando fui convidado a contribuir na elaboração de um plano de governo com o ministro Paulo Guedes e colegas economistas liberais, decidi adotar um olhar diferente. Reuni-me frequentemente com líderes de grandes projetos de tecnologia no Vale do Silício e, ao mesmo tempo, mantinha conversas semanais com agentes do mercado financeiro brasileiro.

Fido Nesti /Folhapress
A pergunta que nos guiava era simples, mas desafiadora: como será a intermediação financeira do futuro e como garantir que o Brasil esteja na fronteira desse processo? Uma segunda questão logo se impôs: seria possível conduzir esse movimento para gerar crescimento sustentável e inclusivo?
Foi nesse contexto que nasceu a Agenda BC#, posteriormente implementada pelo Banco Central do Brasil (BC). O objetivo era construir um sistema financeiro mais competitivo e sustentável, com maior inclusão e digitalização, e abrir um caminho consistente para ampliar a educação financeira.
Nosso ponto de partida foi escutar os usuários do futuro. Perguntamos a jovens quais características esperavam de um sistema de pagamentos e por que viam nas criptomoedas uma alternativa viável. As respostas convergiram em cinco atributos: o sistema deveria ser rápido, barato, seguro, transparente e aberto.
Naquele momento, criptomoedas e mineração digital ganhavam espaço, alimentando a ideia de independência em relação a sistemas monetários centrais —muitas vezes fragilizados por governos que abusaram da emissão de moeda para financiar gastos.
Dessa reflexão surgiram os quatro grandes blocos fundamentais da Agenda BC#: Pix, internacionalização da moeda, Open Finance e Drex. Juntos, eles estruturam uma transformação que pode colocar o Brasil como referência mundial em modernização financeira.
Nos próximos artigos, aprofundarei a capacidade de cada um desses blocos; por ora, vale explicar por que são tão importantes e como se articulam em um plano mais ambicioso.
Começamos pelo que teria impacto imediato e perceptível no cotidiano: os pagamentos. Assim nasceu o Pix, com o objetivo de modernizar e baratear transações financeiras, ampliar a inclusão e estimular a concorrência.
Três anos depois, tornou-se um dos maiores casos de inclusão financeira recente: o Pix incorporou 72 milhões de novos usuários ao sistema financeiro. O nome —Pix— foi sugerido por um diretor do BC e remete a pagamentos instantâneos, com o “X” simbolizando aceleração exponencial.
Com um sistema de pagamentos consolidado, o segundo passo era a internacionalização da moeda e a conexão entre sistemas de pagamentos. O Brasil iniciou um processo de desburocratização cambial que resultou no novo marco legal (lei 14.286/2021 e regulamentação). A tecnologia já permite conexões internacionais mais eficientes, mas ainda falta consenso global sobre o modelo de governança que sustentará essa integração.

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