Comunicação de Acidente de Trabalho: Instrumento Essencial de Gestão Jurídica Preventiva
Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT
Entenda os Impactos e Como Proteger Sua Empresa
Empresas enfrentam desafios constantes na gestão de riscos e na manutenção da conformidade legal. Dentre as obrigações que demandam atenção, a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) emerge como um ponto crítico. Sua correta gestão não é apenas uma formalidade, mas uma estratégia essencial para evitar passivos significativos e proteger a organização.
Este artigo visa esclarecer os principais aspectos da CAT, seus impactos diretos e indiretos para a empresa, e a importância de uma abordagem proativa. Compreender a legislação trabalhista e previdenciária relacionada à CAT é fundamental para mitigar riscos e assegurar a sustentabilidade do negócio.
Obrigatoriedade e Prazos da CAT
A emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) é uma obrigação legal do empregador, conforme a legislação previdenciária. Sua finalidade é registrar acidentes de trabalho e doenças ocupacionais junto à Previdência Social, auxiliando no controle estatístico e epidemiológico, além de garantir os direitos do trabalhador.
Os prazos para a emissão são rigorosos: até o 1° dia útil seguinte ao acidente ou imediatamente à autoridade competente na hipótese de ocorrência de morte.
Para doença ocupacional, o prazo inicia-se a partir do diagnóstico, do início da incapacidade ou da segregação compulsória, o que ocorrer primeiro, de acordo com o art. 23 da Lei n.º 8.213/1991.
Ressalta-se que a emissão da CAT não configura, por si só, o acidente de trabalho para fins de recebimento dos benefícios previdenciários, pois é necessária a perícia médica do INSS para caracterizar o acidente ou a doença ocupacional. Assim, mesmo em caso de dúvida sobre a existência ou não do acidente de trabalho, a CAT deve ser emitida, não representando sua emissão em confissão da empresa, nos termos do art. 169 da CLT.
Na falta de comunicação pela empresa ou empregador doméstico, a CAT pode ser formalizada pelo próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública. Essas pessoas não têm, contudo, a obrigação de cumprir com o prazo mencionado acima.
Impacto da Tese 125 do TST: Nova Interpretação sobre Estabilidade Acidentária
Em 28 de abril de 2024, o Tribunal Superior do Trabalho fixou entendimento vinculante através da Tese 125, que revoluciona a interpretação sobre estabilidade provisória decorrente de acidente de trabalho ou doença ocupacional. Esta decisão representa uma mudança paradigmática com profundos impactos para a gestão empresarial da CAT.
O Novo Paradigma
Conforme a tese firmada, para fins de aplicação do artigo 118 da Lei nº 8.213/1991, não se exige mais:
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Afastamento do empregado por período superior a quinze dias
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Percepção de auxílio-doença acidentário
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Emissão prévia de CAT
Basta que seja reconhecido o nexo causal ou concausal entre a doença ocupacional e as atividades laborais desempenhadas, mesmo após o encerramento do contrato de trabalho.
Implicações Práticas para as Empresas
Esta nova interpretação cria um cenário de maior risco jurídico para as empresas:
Passivo Latente: Surge a possibilidade de demandas trabalhistas meses ou anos após o desligamento, com pedidos de reintegração ou indenização substitutiva correspondente aos 12 meses de estabilidade.
Maior Importância da CAT: Paradoxalmente, embora a CAT não seja mais requisito para a estabilidade, sua emissão correta e tempestiva torna-se ainda mais crucial como ferramenta de gestão de riscos e documentação preventiva.
Prova Pericial Fortalecida: A perícia médica judicial ganha protagonismo para estabelecer o nexo causal, tornando essencial a manutenção de registros médicos e de segurança do trabalho detalhados.
Gestão Preventiva Ampliada: Empresas precisam reforçar programas de saúde ocupacional, investigação de acidentes e documentação, inclusive após desligamentos.
Consequências da Não Emissão da CAT
A omissão ou o atraso na emissão da CAT expõe a empresa a uma série de riscos e consequências negativas, que vão além da esfera administrativa e são agravadas pela Tese 125 do TST.
A primeira sanção é a multa pecuniária, variável e progressiva em caso de reincidência, conforme previsão do artigo 22 da Lei n.º 8.213/1991. Contudo, os impactos mais severos podem surgir em outras esferas:
Ações Trabalhistas: O trabalhador pode buscar indenizações por danos materiais, morais e estéticos, além de estabilidade provisória. Com a Tese 125, mesmo sem CAT, o trabalhador pode pleitear o reconhecimento judicial do nexo causal. A falta da CAT pode ser interpretada como negligência, dificultando substancialmente a defesa da empresa.
Ações Cíveis: A empresa pode ser responsabilizada civilmente por omissão ou negligência na garantia de um ambiente de trabalho seguro, resultando em condenações elevadas.
Ações Criminais: Em casos graves, onde a conduta do empregador ou de seus prepostos contribui para o dano à integridade física ou à vida do trabalhador, podem ser instaurados processos criminais. A omissão da CAT pode agravar a situação, sendo vista como tentativa de ocultação.
Adicionalmente, a não emissão da CAT pode gerar um dano reputacional significativo, afetando a imagem da empresa junto a clientes, investidores e parceiros, especialmente em um cenário de crescente valorização das práticas ESG.
Impactos no FAP e Contribuições Previdenciárias
A gestão inadequada da CAT e dos acidentes de trabalho tem um impacto direto e financeiramente relevante no Fator Acidentário de Prevenção (FAP) e nas contribuições previdenciárias da empresa.
O FAP é um multiplicador aplicado sobre as alíquotas do Risco Ambiental do Trabalho (RAT), que financia os benefícios acidentários do INSS. Empresas com menor incidência de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais são bonificadas com um FAP menor, reduzindo suas contribuições previdenciárias. Por outro lado, um alto índice de acidentalidade eleva o FAP, podendo dobrar o custo do RAT.
Cada CAT emitida e cada benefício acidentário concedido pelo INSS são computados no cálculo do FAP. Mesmo que a empresa não emita a CAT, se o trabalhador ou terceiros o fizerem, ou se o INSS reconhecer o nexo causal, o evento impactará o FAP. A gestão proativa da CAT e investimentos em segurança e saúde no trabalho (SST) são, portanto, estratégias para otimizar a carga tributária previdenciária.
Responsabilidades Civis e Criminais
A omissão ou má gestão da CAT pode expor a empresa e seus gestores a sérias responsabilidades nas esferas cível e criminal, com consequências potencialmente devastadoras, especialmente considerando a ampliação interpretativa da Tese 125 do TST.
A responsabilidade civil da empresa implica o dever de indenizar o trabalhador pelos danos decorrentes do acidente de trabalho ou doença ocupacional. As indenizações podem abranger danos materiais (despesas médicas, lucros cessantes, pensão), morais e estéticos. A ausência da CAT pode enfraquecer significativamente a defesa da empresa em litígios, sugerindo negligência.
Na esfera criminal, se o acidente de trabalho resultar de conduta negligente, imprudente ou omissiva do empregador ou de seus prepostos, pode haver responsabilização criminal por lesão corporal culposa ou homicídio culposo. A omissão da CAT pode agravar a situação, sendo interpretada como tentativa de ocultação ou obstrução da investigação.
A segurança e saúde no trabalho (SST) são deveres inalienáveis. A correta emissão da CAT, aliada a medidas preventivas e investigações de acidentes, é crucial para mitigar esses riscos e demonstrar o compromisso da empresa com a integridade de seus colaboradores.
Como Proceder Corretamente: Estratégias Pós-Tese 125
A gestão estratégica da CAT é fundamental para a empresa mitigar riscos e garantir a conformidade, especialmente após a Tese 125 do TST.
Uma abordagem proativa e ampliada inclui:
Emissão Imediata e Proativa da CAT: Cumpra os prazos rigorosamente. Lembre-se: a emissão é um registro, não uma confissão de culpa. Com a Tese 125, a CAT torna-se documento essencial de defesa preventiva.
Investigação Interna Detalhada e Continuada: Apure as causas do acidente de trabalho ou doença ocupacional. Documente tudo para identificar falhas e subsidiar defesas futuras. Mantenha investigação ativa mesmo após desligamentos.
Assistência ao Trabalhador: Garanta o suporte médico necessário e acompanhe a recuperação do colaborador, mantendo registros detalhados de toda assistência prestada.
Manutenção Ampliada de Registros e Documentação: Organize todas as CATs emitidas, relatórios, atestados e exames ocupacionais. Com a possibilidade de questionamentos tardios, essa documentação é vital para auditorias e processos judiciais futuros.
Sistema de Acompanhamento Pós-Desligamento: Desenvolva protocolo para documentar adequadamente desligamentos e manter registros que possam subsidiar defesas em eventual questionamento posterior sobre nexo causal.
Revisão e Melhoria Contínua da Segurança: Utilize os dados dos acidentes para aprimorar as políticas de SST, investindo em treinamentos e equipamentos de proteção. A prevenção é ainda mais crucial no novo cenário jurídico.
Assessoria Jurídica Especializada e Preventiva: A complexidade da legislação trabalhista e previdenciária, agora ampliada pela Tese 125, exige acompanhamento profissional constante e estratégico.
Conclusão
A Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) é, portanto, um pilar na gestão de riscos jurídicos e na conformidade empresarial. Com a Tese 125 do TST, sua importância estratégica foi exponencialmente ampliada. A Barbieri Advogados compreende a profundidade desses impactos e a necessidade de soluções jurídicas estratégicas e inovadoras.
O novo paradigma jurisprudencial exige das empresas uma reestruturação de suas políticas de saúde ocupacional e gestão documental. A busca por uma assessoria jurídica qualificada é um passo essencial para navegar com segurança pelas complexidades da legislação trabalhista e previdenciária, assegurando a sustentabilidade e a integridade do seu negócio em um cenário de maior imprevisibilidade jurídica.

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